sexta-feira, 13 de agosto de 2010

As cinco viagens

 

Um dia entramos no Templo e, para aumento de salário, fizemos, ao contrário das três viagens da Iniciação, cinco viagens. Não mais de olhos vendados, cegos, porém de olhos abertos tivemos firmeza nos passos. Mesmo assim fomos conduzidos por mãos de Mestres.


         Foi uma passagem deveras importante. Dentro da Loja base pisávamos o degrau intermediário entre o Um e o Três. Pouco nós sabíamos do Um ainda. Ao todo víamos a Pedra ainda bruta, e as mãos, tanto calejadas, estariam prontas para começar o polir a tal Pedra?

Olhos atentos de Mestres nos olhavam fixos e crentes. Mentes de graus ainda mais superiores acreditavam que sim.

E tiveram dessa forma, o início de nossas Viagens, para recordar que o MOVIMENTO é a vida e que na Terra e no Espaço tudo se move, tudo trabalha, tudo caminha, tudo evolui. Desde o mais ínfimo ser ao mais dotado, desde a poeira cósmica, às massas galácticas, tudo caminha para a evolução. Ficar parado é ver o mundo, a vida, o sonho, a própria morte passar...

         Dessa forma como outrora Archimedes que sonhava
mover o Mundo com uma simples Alavanca, aqui também a segurávamos na ânsia de mover nossos próprios passos, na ânsia incoercível de abraçar a Luz.

Dentro da Evolução do Grau de Aprendiz para Companheiro, a Alavanca foi trocada pelo Maço e o Cinzel.

Assim fizemos nossa PRIMEIRA VIAGEM e paramos em frente à Coluna da Ordem Coríntia de Arquitetura. A terceira e a mais rica das Ordens ornada de folhas de acanto, simboliza a BELEZA.

Agora a BELEZA tomava forma. Como Aprendizes, sentados na Coluna Norte, do Segundo Vigilante, ele sempre dizia que estávamos na Coluna da Beleza. Agora ela tomava forma.

         Porém esta Primeira Viagem representaram três simbólicos anos de Silêncio, onde tivemos os ouvidos aguçados para aprender, apreender os ensinamentos primários que nos foram passados. Aprendemos a desbastar a Pedra Bruta, mas ela ainda está ali no canto a mostrar suas imperfeições.

Teremos nós capacidade para, com o uso do Maço e do Cinzel darmos-lhe Polimento? Forma? Elegância? Será que nossa Pedra Corporal irá se ajustar às outras tão polidas que formam esse Templo?

O Tempo dirá...

         Antes do início da Segunda Viagem, vendo ainda a Pedra Bruta palidamente polida, e o Maço e o Cinzel foram trocados por um Compasso e uma Régua.

E fizemos a Segunda Viagem, parando em frente à Coluna Dórica de Arquitetura, caracterizada pela Sobriedade.

É a mais antiga das ordens gregas e simboliza a Força.

Que força?

A força física? Mental?

Pronto. Agora nossa Pedra ainda toda imperfeita já necessita Ciência para ser colocada justa e perfeita na parede.

Não, não na parede. Ela destoaria muito das outras. Que sirva de base, pois o alicerce não vai ser mostrado. Será depois coberto pela terra.

Como semente, que nossa Pedra cresça em Conhecimento, Justiça, Retidão, Clareza, Pertinência. Que nossas linhas materiais sejam desbastadas, esquadrejadas, e que nós, em nossas mentes, estejamos prontos para tal Obra.

Estamos deixando nossa Infância. Embora quadrúpedes, sabemos já andar sobre dois pés.

Sabemos raciocinar. Aziaga contingência.
Isso é mais do que ser Cristo e ser Moisés
Porque é ser animal, é ter consciência!

Mas a fagulha do Fósforo e do Enxofre já pode nos iluminar. Dessa forma vemos os princípios e as técnicas das Ciências.
Mas ainda somos fracos em tais ensaios. Porém, com a sabedoria do Venerabilíssimo Mestre, com os olhos da Beleza e da Força dos Segundo e Primeiro Vigilantes, haveremos, sim, de nos encaixar justos e perfeitos no canto do alicerce de nosso Templo Interior!

Assim alcançaremos em conhecimentos a Retidão Moral e a Sabedoria de onde emanam o Amor e a Fé.

Assim findamos a nossa Segunda Viagem e paramos de súbito para, ansiosos, pormos os pés na Terceira Viagem.

Antes, porém, substituem de nossas mãos o Compasso pela Alavanca e conservamos a Régua.

Penso aqui comigo: Archimedes estava certo. Sempre esteve certo em seu princípio. Para quê traçar círculos se com a Alavanca posso mover os mundos?

– Dê-me a Lua de apoio e colocarei a Terra para fora da Via-Láctea! Dizia Archimedes!

         Mas fazemos a Terceira Viagem e paramos em frente à Coluna da Ordem Jônica de Arquitetura, caracterizada, sobretudo, por um Capitel ornado por Duas Volutas Laterais Originária da Assíria, que simboliza a Sabedoria!

Assim simbolicamente avançamos em nosso Terceiro Ano de estudos, trabalhando com a Régua e com a Alavanca.

         Novamente me vem à lembrança Archimedes e com a Alavanca nas mãos, tendo firmeza na alma e a coragem inquebrantável do Homem independente, posso, pois, levantar os mais pesados fardos usando a ínfima força.

Sim, porque a Força usada em demasia traz efeitos funestos em todos os sentidos. Portanto acompanhado da Régua, que é o símbolo do Julgamento reto e representa e Firmeza, a Coragem, o Respeito Pessoal, a Confiança própria, que são os atributos que nós, Pedreiros Livres, devemos conquistar em nosso terceiro ano de aprendizado.

De tal forma temos a Alavanca para os impulsionar e a Régua a nos domar.

O ÂNIMO REFREADO
A PASSO CONTIDO
A CORAGEM DOMINADA
O ANSEIO DOMADO.

Dessa forma já podemos refrear os passos mais apressados que vêm atrás de nós em ímpetos de Aprendizes. Mas somos também barrados por mãos de Mestres experientes que nos domam e nos refreiam!

Eu nem havia sentido que o Esquadro se encontrava em minha cintura. Quem o havia posto nesse lugar?

Mas tiram-me o Sonho de Archimedes, representado pela Alavanca e na minha mão esquerda colocam a Régua e o Esquadro, e paramos na Quarta viagem em frente à Coluna que representa a Ordem Compósita de Arquitetura, na qual entram elementos das ordens Jônica e Corintia.

         Agora a Beleza está adquirindo Sabedoria. Interessante demais. Será que na próxima viagem além da Beleza e da Sabedoria, ainda será juntada a Força? (aqui tento adivinhar...) Esperemos. Nada de adiantar os passos, querer ver além da esquina. Dobrar os olhos. Melhor seguir em retidão.

Mas olhando bem minha pedra até que poderia já sair do alicerce e mostrar que também tem Beleza, que ela pode, sim, ornar uma parede interior que seja, desse imenso Templo chamado Humanidade.

Mas preciso utilizar o Esquadro para angular meus sonhos, domar meus anseios, minha Ira e minha Lira.

Num cantinho fosco, tosco e oculto, mas à flor da terra, já posso deixar ser vista a alma da minha pedra (ainda bruta).

Mas que a conduta seja irrepreensível, que a retidão de nossas ações e a equidade estejam sempre de alerta para tratar de nossos semelhantes e com nossos semelhantes.
Assim na Humildade nos exaltamos como dizia o Divino Mestre:




Exaltado serão aqueles que se humilham, porém, humilhados serão aqueles que se exaltam. Não sejamos nós, os fariseus no Templo.

Por ordem do Venerabilíssimo Mestre entregamos ao Segundo experto o Esquadro e a Régua e junto ao Mui:. Dig:. M:. de CCer:. fazemos nossa quinta  e última Viagem e paramos em frente à Coluna que representa a Ordem Toscana de Arquitetura. Da mesma forma que a Compósita, é de origem romana. É a mais simples das Cinco Colunas aqui representadas.

E eu pensei que tudo fosse unir e eu fosse ter além da Sabedoria de Salomão, a Força de Hércules ou Sansão e a Beleza de Narciso...

Pura ilusão...

Mas é de origem grega e tem características específicas.

É uma ordem arquitetônica, é criação de Arte e Inteligência, marca uma Civilização e um Estágio de Cultura.

Seu valor vem da originalidade da concepção, do traçado das  linhas, da proporção dos Volumes, da Harmonia do Conjunto.

É o Ideal de uma Beleza, ou um Ideal de Beleza e funcionalidade.

         É a pura evolução, são os estágios da Inteligência, distingue-se pelos capitéis, sustenta todo o Edifício mental que as coroa. Demonstra constante evolução até o limite que se não pode superar sem destruirmos as Leis ou as Regras da Harmonia e da Beleza.

Isso é mais do que pensei quando do termino da quarta Viagem. É a Suprema Evolução, é a Argamassa da Vida, o Amálgama da Eternidade e da própria marcha do Homem sobre a Terra.

Elevação

Toma a Régua, o Compasso, o Esquadro, o Prumo e o Nível
Para em ânsias fazer suas Cinco Viagens.
E ao término encontrar sublimes personagens,
No delírio maior do sonho mais incrível!

Se unem Força e Beleza e de modo sensível,
Eis a Sabedoria em lúcidas miragens.
Na mente a ideia ferve, embaralham-se imagens,
E o olhar além penetra a Vida indescritível.

A rutilante Estrela envolta em luzes brilha!
Na marcha do futuro o pensamento trilha,
E, Aprendizes, os pés, aos passos dão suporte.

Glória! Luz! Apogeu! Aceleram-se os passos,
Surgem novos sinais, novos tipos de abraços,
E agora o Companheiro é um Aprendiz mais forte!

Temos confiança de que um dia, quem sabe, possamos fazer parte de uma parede maior de nosso próprio Templo.

Basta, pois, pisarmos mais firmes e mais confiantes com nossos eternos passos de aprendiz cada vez que adentrarmos num Templo Maçônico!

 Ir.'. Esio Pezz ato, batizado Castro Alves

Um comentário:

  1. Belíssimo Trabalho do Ir:. Esio Pezzato. Muito bom. Deve ser lido em Loja em Sessão de Companheiro sempre. Valeu, Irmão.
    Pedro Celso, Or. de Sp

    ResponderExcluir